Diário Oficial da União publica última edição em papel nesta quinta
Publicação era impressa há 155 anos e passa a ser totalmente digital. Fim da edição em papel vai poupar 11 mil árvores por ano.
Foi publicada na madrugada desta quinta-feira (30) a última edição em papel do Diário Oficial da União (DOU). A partir de agora, o diário – que chegou a ter mais de 5 mil páginas em um só dia e recebeu o título de jornal diário com maior número de páginas do mundo – só ficará disponível em versão digital.
Ele era impresso há 155 anos, quase todos os dias, distribuído em todo o Brasil. Nos tempos de ouro, tinha tiragem de 90 mil cópias diárias, mas o número foi diminuindo gradualmente até atingir a quantidade atual, de 6 mil por dia.
“Agora que não vai ter mais jornal, bate uma tristeza. De um lado tristeza, de outro, orgulho”, afirma o impressor Raimundo Tiago, que trabalha na Imprensa Nacional há 25 anos. “Orgulho por ter participado dessas obras que a gente está botando na rua.”
Ele faz parte de uma equipe de 28 pessoas que vira a noite no parque gráfico. Com o fim da impressão do DOU, a jornada pela madrugada vai terminar. Por isso, os funcionários serão remanejados para novos turnos, na confecção de outros projeto da Imprensa Nacional.
Outro impacto do fim da edição impressa: aproximadamente 11 mil árvores vão ser poupadas todo ano. Só para imprimir o DOU, o gasto de papel é de 720 toneladas atuais. Em tempos de racionamento no Distrito Federal, isso também vai gerar economia de 32 milhões de litros de água por mês. É o suficiente para encher oito piscinas olímpicas.
Histórico
O primeiro DOU foi impresso na época do Brasil Império, em 1º de outubro de 1862, em uma máquina enviada de Portugal por D. João VI, na época príncipe regente. O modelo é o mesmo que chegou a ser usado por Machado de Assis.
“O Diário Oficial tem uma característica peculiar que é a de dar publicidade e validar os atos do governo. Para que qualquer ato tenha validade, ele tem que ser publicado no Diário Oficial”, explica o historiador Rubens Cavalcante.
Ele cita alguns marcos do país. “Então, nós podemos pegar desde o período imperial, como a Guerra do Paraguai, Lei do Ventre Livre, Lei do Sexagenário, Lei Áurea, Proclamação da República, o voto feminino, as leis trabalhistas até as mais recentes, como a Lei Maria da Penha, por exemplo.”
O DOU também registrou a aprovação da Constituição de 1988, posses presidenciais, a criação do Código Brasileiro de Trânsito e a mudança da capital para Brasília. Em 1960, o então presidente Juscelino Kubitschek determinou que ele fosse impresso no DF: 50 homens levaram 25 dias para desmontar a máquina, carregada por cinco caminhões em quatro dias de estrada.
Digital
Para a Imprensa Nacional, a edição digital, que existe desde 1997, será aprimorada. “O da impressão abre um caminho 100% digital para o diário. A gente já tem a versão digital, a gente vai estar disponibilizando a partir de amanhã um novo portal com novas funcionalidades, com facilidade de pesquisa para o usuário, com informações em formatos digitais mais manuseáveis”, afirma o diretor-geral do órgão.
“Então, vem um diário com a mesma confiança, credibilidade que o diário oficial teve ao longo de 155 anos e com funcionalidades digitais que são mais aderentes ao mundo de hoje.”
Fonte: G1